A morte de neurónios cerebrais que todos os dias acontece
contribui para a segunda infância dos velhos, que pasme-se: conservam a memória
da história pregressa longínqua, pormenorizada e nítida, e, esquecem o que se
passou há meia hora…
Ainda agora ocorreu-me numa associação atabalhoada de
catadupa alarve, a história do lobo e do cordeiro, contada no livro de leitura
da minha segunda classe, depois pensei na calamidade dos incêndios, na minha
opinião maioritariamente ateados a mando dos “interesses”, e, nos cento e tal
mortos em vão… e desta ideação saltei para a obrigação, pesadamente sancionada,
de limpar os matos e não só, até 15 de Março impreterivelmente, não obstante os
temporais, expondo a terra nua e os calhaus, à vista e à erosão, como nas paisagens
mais desoladas de um planeta aterrador. Como se participasse numa “sessão espírita”,
ouvi vinda de longe, a voz fanhosa, prepotente e odiosa da minha professora de Ciências-Naturais
a explicar a função clorofilina e a sua estreita ligação ao verde das plantas, quer
sejam cardos, giestas, estevas, silvas ou hortas mesmo que salpicadas com o
vermelho dos tomates.
Agora, como que num flash de lucidez, ocorreu-me, vá-se lá
saber porquê, se vamos importar o oxigénio da Alemanha ou se vamos compra-lo à
Celulose do Caima, à Portucel ou à Industria do Fogo…
Será o Alzheimer? Ou será que atingimos um patamar de
iniquidade tal, que tudo é lícito desde que sirva o Capital?
João Miguel Nunes” Rocha”
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