sexta-feira, 2 de agosto de 2019

MOLÉCULAS MEGALÓMANAS

Os profissionais de saúde, os funcionários de lares da primeira e da segunda infâncias, as assistentes sociais, os sacerdotes, enfim todas as figuras que detenham o poder de fazer o mal de modo sub-reptício e impune, deviam ser submetidos a testes psicológicos que provassem que gostam dos seres humanos reais, com as suas grandezas e defeitos, com os seus olhares cúpidos e de cobiça e com as suas mãos que agarram, que esgadanham, que despedaçam, mas capazes também, da suavidade de uma penugem que cai, quando esboçam gestos de ternura ou de se tornar comoventes, quando súplices, porque dos seres humanos ideais, utópicos, até Lúcifer gosta.

Moléculas megalómanas, ínfimos em relação a quase tudo, num universo incomensurável onde as distâncias atingem os milhares de milhões de anos-luz e o tempo os biliões de anos, ousamos afirmarmo-nos, sem ironia, feitos à imagem do Deus criador e só a decadência, a velhice amarga, a doença ou o desabar do ego, nos baixam a crista e nos aproximam e assemelham a um deus mirrado e sem poderes. Ídolos derrubados, cientes e atolados na mesquinhez da nossa condição ou na luta que todos, cada um por sua vez, temos de travar com a morte, numa peleja perdida como o adejar da borboleta, ao redor da chama que lhe marca o fim. É então, que é importante que quem lida com estas situações seja dotado de empatia verdadeira, de compaixão, e se aproxime, mesmo que fedamos a vómitos ou tresandemos a melenas e se empenhe em apaziguar-nos a dor, em instilar-nos alento, em mitigar-nos o terror do ”remoinho medonho”, sem nos empurrar para ele ou aponta-lo como a melhor solução…e sem ceder às administrações das parcerias público-privadas, para que diminuam a contazinha….ou aos grupos privados, para que a aumentem…

Das conquistas de Abril já pouco resta, abocanhadas que foram por um poder político e mediático cúmplices e vendidos a um poder económico, cuja impunidade que grassa desmesurou a cobiça; do voto livre efémero, passou-se a “um vale tudo” que formata, empurra, determina….das verdades que se delatadas pelos bufos eram mais severamente punidas do que os crimes (pide, torturas, Tarrafal) passámos para uma amalgama de calúnias, boatos e meias verdades, que destroem vidas, derrubam reputações e calcinam a confiança.

Das autênticas obras-primas elaboradas por muitos jornalistas, para escapar ao “lápis azul” passámos para o bom e o crível, serem a excepção.

O ouro do país, fundiu-se e escorreu para a zona magmática; os contratos que os médicos tinham com a CGA e com a ADSE, foram desonrados com a cumplicidade deste Estado que admoesta a Venezuela e apoiou o ataque ao Iraque. Os grupos privados da saúde engrossam a voz e há o desenrolar dum “torneio farsa”, de um ”déjà-vu”, com as consequências do costume…Os grupos económicos vão alambazar-se com o SNS como o fizeram com o tecido produtivo, o dinheiro dos bancos e o dinheiro dos contribuintes coagidos a esse esbulho, que outra coisa não foi, e, a outros que estão para vir: ónus de limpar, para expropriar o pequeno proprietário de terras, de onde saiu para poder comer, mais falências fraudulentas…

Das enfermarias de Abril com 60 AVC ou 60 cirroses o SNS cresceu até um honroso décimo segundo lugar, começou a definhar com as parcerias público-privadas e agora mete dó e gera dilemas de confiança; não deixemos que no-lo tirem, mesmo assim.

Na minha opinião a eutanásia, é uma grande maldade, prodrómica da morte a eito dos improdutivos, dos débeis e dos genocídios e este parlamento qui-la aprovar, sem referendo.

Que mais precisamos para perceber que esta gente não merece confiança.




João Miguel Nunes ”Rocha”
(artigo publicado na revista ORDEM DOS MÉDICOS  n.º199 • junho 2019)