A velhice afunda-nos numa argamassa densa, que nos tolhe os movimentos e nos emperra o metabolismo e, nos impele como às lagartixas, a acachaparmo-nos contra os muros soalheiros e abrigados dos zéfiros frescos, onde o do sangue fluindo morno pelos hemisférios cerebrais, nos embriaga de bem estar, de uma quase felicidade, turbada nos tempos que correm, ditos de inclusão, pelo malquerer que sentimos na sociedade e nos nossos, como se a idade tivesse extinguido em nós a centelha humana ,que leva os primatas mais novos, numa sobranceria pasmosa, à presunção de feitos, à imagem do Criador.
Agora que esta gentinha da politica aprovou a eutanásia na
especialidade e lhe deu prioridade em relação ao esforço de vacinar os velhos,
ou ao de planear a evolução da pandemia, reitero o meu repúdio porque pressinto
que transpusemos o limiar de um horrível, e não, “admirável mundo novo”, onde,
apesar de arremedarmos a democracia: votando, protestando, concordando,
aduzindo…todos os nossos gestos terão, pese embora a sua aparente autonomia, a
génese do salivar, dos cães de Pavlov.
Marionetas peladas, com tiquezinhos que simulam a boa
educação e dissimulam a nossa natureza impiedosa, boçal e brutal é-nos tão
fácil empurrar alguém da “mó de baixo” para uma morte precoce e escusada,
servindo-nos de uma autoestima abissalmente baixa, da angústia, da dor e do
medo e acoitando-nos na certeza de que a morte detém e petrifica, a imensa
censura omissa, nos que se finam.
O tempo só passa devagar na nossa infância, depois acelera, acelera,
até à derrocada… e durante duas décadas e tal, supomos que a vida é longa e que
entre a juventude e a velhice há uma décalage temporal incomensurável e para
nos libertarmos da censura introspectiva por certos vícios e hábitos que temos
e que levam à doença, propomo-nos amputar a velhice às nossas vidas ,se
padecentes. Mas isso é um engano ingénuo e atroz porque o nosso apego a este
mundo não diminui com a proximidade do outro e nem nos percursos finais mais
medonhos, sentimos esse desejo de morrer; eu pelo menos nunca o senti ou o vi,
nos doentes agónicos.
Da não inclusão dos velhos, não residentes em lares, no
plano de vacinação, à lentidão com que esta está a decorrer, agravada pela
decisão de não ministrar a vacina da Astrazeneca aos mais velhos, para bem
deles claro, há na minha opinião o desejo, cobardemente não assumido, de que os
velhos se finem no maior número possível e como tal parece estar a acontecer
por quase toda a Europa não me repugna pensar que depois do holocausto que teve
como vítimas preferenciais os judeus, os ciganos, os homossexuais, os
deficientes…todos que destoassem do ideal ariano…estejamos em Portugal perante
um sub-reptício genocídio visando os velhos, os doentes crónicos, os deficientes
profundos, parca poupança e contrapartida para o dinheiro empandeirado com os
bancos, com a TAP e com mil e uma, fraudes e falcatruas…Tenham ou não quaisquer
resquícios de fundamentação estes meus pressentimentos de geronte em processo
de degenerescência, há na actuação do governo “muita parra e pouca uva” e todos
os cidadãos interessados vêm, que a sua gente se preocupa mais em mostrar
eficácia, do que em proceder eficazmente e empola os “abaixamentozinhos”, como
prova de mestria e de competência e
atribui aos cidadãos, a culpa, das subidas vertiginosas. A ministra da saúde e
o senhor Eduardo Cabrita correram a pavonear-se juntos, na vacinação de vinte
bombeiros e os velhos com e sem comorbilidades, continuam a ser vacinados às
pinguinhas, apesar da morte de centos por dia. Gostava de ver a senhora
ministra vangloriar-se era de ter sido vacinado todo um grupo. Se dos quinze
mil e tal mortos por covid em Portugal, quase catorze mil têm mais de 70 anos,
só por dolo se não enxergam as prioridades mesmo excluindo os 4 grupos de
comorbilidades. Sabê-lo e não agir equivale a mandar assassinar.
Recebem com pompa e circunstância, servis, a ajuda alemã,
mas não se dignam a uma resposta, a uma palavra de apreço, aos médicos
portugueses que se voluntarizaram para ajudar na pandemia.
Oeiras 11 de fevereiro de 2021
João Miguel Nunes “Rocha”