sexta-feira, 5 de março de 2021

A IMENSA CENSURA OMISSA

A velhice afunda-nos numa argamassa densa, que nos tolhe os movimentos e nos emperra o metabolismo e, nos impele como às lagartixas, a acachaparmo-nos contra os muros soalheiros e abrigados dos zéfiros frescos, onde o do sangue fluindo morno pelos hemisférios cerebrais, nos embriaga de bem estar, de uma quase felicidade, turbada nos tempos que correm, ditos de inclusão, pelo malquerer que sentimos na sociedade e nos nossos, como se a idade tivesse extinguido em nós a centelha humana ,que leva os primatas mais novos, numa sobranceria pasmosa, à presunção de feitos, à imagem do Criador.

Agora que esta gentinha da politica aprovou a eutanásia na especialidade e lhe deu prioridade em relação ao esforço de vacinar os velhos, ou ao de planear a evolução da pandemia, reitero o meu repúdio porque pressinto que transpusemos o limiar de um horrível, e não, “admirável mundo novo”, onde, apesar de arremedarmos a democracia: votando, protestando, concordando, aduzindo…todos os nossos gestos terão, pese embora a sua aparente autonomia, a génese do salivar, dos cães de Pavlov.

Marionetas peladas, com tiquezinhos que simulam a boa educação e dissimulam a nossa natureza impiedosa, boçal e brutal é-nos tão fácil empurrar alguém da “mó de baixo” para uma morte precoce e escusada, servindo-nos de uma autoestima abissalmente baixa, da angústia, da dor e do medo e acoitando-nos na certeza de que a morte detém e petrifica, a imensa censura omissa, nos que se finam.

O tempo só passa devagar na nossa infância, depois acelera, acelera, até à derrocada… e durante duas décadas e tal, supomos que a vida é longa e que entre a juventude e a velhice há uma décalage temporal incomensurável e para nos libertarmos da censura introspectiva por certos vícios e hábitos que temos e que levam à doença, propomo-nos amputar a velhice às nossas vidas ,se padecentes. Mas isso é um engano ingénuo e atroz porque o nosso apego a este mundo não diminui com a proximidade do outro e nem nos percursos finais mais medonhos, sentimos esse desejo de morrer; eu pelo menos nunca o senti ou o vi, nos doentes agónicos.

Da não inclusão dos velhos, não residentes em lares, no plano de vacinação, à lentidão com que esta está a decorrer, agravada pela decisão de não ministrar a vacina da Astrazeneca aos mais velhos, para bem deles claro, há na minha opinião o desejo, cobardemente não assumido, de que os velhos se finem no maior número possível e como tal parece estar a acontecer por quase toda a Europa não me repugna pensar que depois do holocausto que teve como vítimas preferenciais os judeus, os ciganos, os homossexuais, os deficientes…todos que destoassem do ideal ariano…estejamos em Portugal perante um sub-reptício genocídio visando os velhos, os doentes crónicos, os deficientes profundos, parca poupança e contrapartida para o dinheiro empandeirado com os bancos, com a TAP e com mil e uma, fraudes e falcatruas…Tenham ou não quaisquer resquícios de fundamentação estes meus pressentimentos de geronte em processo de degenerescência, há na actuação do governo “muita parra e pouca uva” e todos os cidadãos interessados vêm, que a sua gente se preocupa mais em mostrar eficácia, do que em proceder eficazmente e empola os “abaixamentozinhos”, como prova de mestria e de  competência e atribui aos cidadãos, a culpa, das subidas vertiginosas. A ministra da saúde e o senhor Eduardo Cabrita correram a pavonear-se juntos, na vacinação de vinte bombeiros e os velhos com e sem comorbilidades, continuam a ser vacinados às pinguinhas, apesar da morte de centos por dia. Gostava de ver a senhora ministra vangloriar-se era de ter sido vacinado todo um grupo. Se dos quinze mil e tal mortos por covid em Portugal, quase catorze mil têm mais de 70 anos, só por dolo se não enxergam as prioridades mesmo excluindo os 4 grupos de comorbilidades. Sabê-lo e não agir equivale a mandar assassinar.

Recebem com pompa e circunstância, servis, a ajuda alemã, mas não se dignam a uma resposta, a uma palavra de apreço, aos médicos portugueses que se voluntarizaram para ajudar na pandemia.

Oeiras 11 de fevereiro de 2021

João Miguel Nunes “Rocha”

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

O logro

Que raio de povo somos nós, que se livrou do ditador que, morreu pobre, e, baniu o fascismo para se tornar uma democracia, em que os grandes interesses servindo-se do poder de sugestão e hipnótico dos media, elegem os políticos a seu belo prazer, em que os negócios do estado são sempre ruinosos para este, mais rentáveis que os negócios da Santa Casa para os novos donos e um sorvedouro, um “bolso roto “para o pecúlio dos cidadãos contribuintes, que se tornam eternamente devedores, de um bem, que nunca possuíram, ou possuirão.

Num declínio cada vez maior, o Estado que só honra os compromissos com os grandes interesses, chegou agora à iniquidade extrema de não proteger os cidadãos mais frágeis, antes parecendo que lhes quer mal e torce pela sua defunção, porque se formos honestos e encararmos a realidade sem nuances, se torna óbvio, que esta gente da governação, do M.S. e da D.G.S., estão apostados em através da pandemia, exterminar os mais frágeis de entre nós. Talvez seja por isso, que se ascende tão amiúde dos píncaros do governo para a chefia da U.E ou mais ainda.

Do milagre português, transitámos para o “descontrai” das almoçaradas do Dr. António Costa e do Senhor Ferro Rodrigues, sem que tivesse havido um abrandamento dos contágios, e fomos agravando, agravando sem testagens significativas (que são caras) ou seguimento das cadeias epidemiológicas, até ao estado dantesco actual. E, agora, despudoradamente, vêm acusar os cidadãos de terem abusado no Natal, quando a imposição do confinamento às 13 horas, num tempo de corrupio às compras somado à subestimação dos casos que já havia, conduziu ao ”fora de controlo” presente. Eu bem vi as enormes filas fora das grandes superfícies e os magotes amontoados lá dentro. E, o martelar diário da DGS, de que só os velhos morriam, desvaneceu o medo dos jovens e agora não há civismo que baste, para os conter.

Na minha opinião este Estado, tem gerido miserável e avaramente a pandemia: testes, apoios, medidas eficazes mas onerosas, contratação de profissionais de saúde, desinfecções, mudar e proteger os utentes dos lares onde há surtos activos… tudo tem sido restrito, escasso, somítico e forçado…E, só se mostra pródigo nos confinamentos, sem contudo ter cumprido todas as responsabilidades que lhe competiam, cujos ónus são dádivas da U.E.. E é tal o seu desdém pelos cidadãos, que se forem infectados têm grandes probabilidades de morrer, que não os vacina, mas abre excepções ao estado de emergência para que estes, vão votar…indiferente aos contágios e óbitos inevitáveis inerentes.

E com as vacinas já se viu; são escassas mas aplicadas com tal pompa, que as comitivas de basbaques ministeriais, não raro, superam em número, os utentes a vacinar e são exibidas até ao fastio.

E os alvos prioritários da vacinação? Basta olhar para a lista publicada pela DGS  e Companhia, para que nos invada a raiva, a esta gentinha apostada em deixar morrer os pais e avós dos portugueses, com a indiferença medonha destes, porque a lista supracitada diz tudo, embora tentem escamotear as evidências, mas qualquer que a consulte e não seja parvo, percebe logo a artimanha. Dos velhos, só pertencem ao primeiro grupo prioritário, os internados em lares e nos cuidados continuados; todos os outros só são incluídos se tiverem: mais de 50 anos e uma ou mais das co morbilidades que são: IC,DC, DPCO e IR e mesmo que as tenham todas só serão vacinados depois das forças de segurança e forças armadas (maioritariamente jovens mocetões). Todos os outros velhos, qualquer que seja a sua idade, saudáveis, ou com todas as patologias do Harrison`s, excepto as supracitadas, só o serão numa segunda fase a começar em maio ou muito provavelmente bastante depois, quem duvide recorra ao simulador da DGS. Por algum motivo, a Ordem dos Médicos foi excluída da elaboração da lista…

Nem tudo o que fizeram, foi mal. Na compra escassa e tardia de vacinas mostraram enorme providência; sendo certo que a imunidade conferida pela vacina pode ser transitória, mas a conferida pela defunção é permanente, ainda nos vão sobejar vacinas. Em 2022 vamos ter um verão maravilhoso: formigueiros de turistas no país mais jovem da Europa, com grandes ermos e pouca população, tão ao gosto dos nossos “protectores”.

Neste mundo sem dó, fomos mais uma vez logrados

João Miguel Nunes “Rocha” 

  (artigo publicado na "tribuna" da Ordem dos Médicos, em Jan 19 2021)